Chove toda partida
Cai o dia molhado. Havia telefonado um par de vezes, veio mostrar o carro. A lata úmida. Brilha o poste. Não quis entrar. Ia preparar um cafezinho. Chovia pouco. Ficamos fora do portão. Tudo bem, querido, vamos entrar. Não posso, vim apenas mostrar. Carro de uma cor entre vermelho e abacate. Bacana, parabéns. Saí da universidade, agora estou livre para o que der e vier. Aquilo me chocou, eu não imaginava. Vamos conversar à beira do fogo. Não posso “temos” compromisso. Uma pena. Pensou bem na sua decisão? Cansei de sala, entende. Comprei isso, bala na agulha fio no buraco. Camelo, céu, atravessar o deserto, quarenta anos de marcha. Entendeu a linguística? Acho que sim. Está chovendo, podíamos falar de teus planos, se quiser. Deixa te dar um abraço. Quanta preocupação, bonito, saudades. Chorei na chuva. Atravessou o pensamento, estacionou algo entre as orelhas. Está sem chapéu, a água descia lentamente e eu fiquei ali, abismado...