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Mostrando postagens de maio, 2017

Pague e mande

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Pague e mande                              Pedro Moreira Nt Sentada à mesa, olhos pequenos estavam margeados por uma napa pressionada sobre o edredom da pele. Surgia do túnel algumas varas crispadas de cílios onde o espelho refletido mostrava as camadas do sorvete que a qualquer momento seria atacado por bonitas pás carregadeiras de alpaca polida. As sobrancelhas afinadas e quase toda arrebatada por uma mania de se flagelar em quase todas as manhãs de domingo ensolarado, retirá-las à pinça.   O cabelo liso, esfiapado, mantinha forçosas e trágicas   ondulações que lhe traria, pensava, alguma dignidade. A boca foi toda debruada com a entrada de uma espécie estranha de gordura química que inchava ferozmente os lábios,   a fim de enaltece-lo, e a mostrar que ao pronunciar qualquer palavra sacudiria, em um quase vibrato, as intenções mais baixas que qualquer um em sua banca de convidados imaginaria  adormecidas.  - E, mais. Mais muito mais, minha cara.  A orelha escondida po
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Percepção a diesel

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Percepção a diesel  Pedro Moreira Nt    A casa do doutor era muito extensa, altura e largura com grades de pontas protetoras contra cidadãos inadequados ao seu padrão de vida. As cores, e a arquitetura toda era um neoclássico que lembrava a casa de campo da rainha desenvolvida de um país conhecido pela TV. O jardim um tanto barroco, um tanto arcaico com estátuas de mulheres nuas feitas de cimento com coroa de flores e água artificial saindo de jarras. A novidade era uma planta da Malásia que aflorava à noite e de dia não suportava o sol e dormia seu longo sono. Flor de defunto em todos os cantos com suas luz colorida. Era bonito e ao mesmo tempo triste. - Que casa! Ele estava encantado porque notou acima das lanças prateadas da grade uma inscrição: cerca elétrica. Fios e mais fios de um campo de concentração abandonado estavam distribuídos pelas linhas laterais e entre os hibiscos junto ao muro. - Estou satisfeito com tudo isso! - O que quer dizer? - Até aí eu

Amar, inclusive

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Amar, inclusive* Pedro Moreira Nt Corre o mercado empinando o carrinho para o primeiro dia de férias, faz as mais perigosas curvas e desliza colhendo rapidamente todo o tipo de mantimento. Descendo os canais sujos, viaja por entre gôndolas lotadas, desvia de velhas e obesas desleixadas, crianças choronas, pais irritados em filas intermináveis, desafiando o mundo, veloz, ofegante. Cresce a impaciência a cada estreita encruzilhada, quando empurra algum comboio estacionando, quando quer alcançar um produto que se escassa ou , pior que tudo, devolve latas amassadas, legume velho, produto com a data vencida e outros empecilhos que só a sujeira é capaz de fazer. Quando isso acontece, xinga, esbofeteia no ar a cara imaginária do gerente, o dono, o governo e seus ministérios com aquela calma de quem está louco da cara e faz de conta que canta. A velocidade aumenta, as curvas são chocantes, apertadas, desvia de alguns fiscais, pula à frente do remarcador de códigos

Prego

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Prego Pedro Moreira Nt   Há muito significado no prego. Talvez estejam lá à venda. Algum antigo mercador no pregão diário está por aí a ajuntar os pregos da vida e a revendê-los. Quando estiver exausto, cansado, quando enfim, no prego, poderá entender. Prego de empregar isso e aquilo para o trabalho, fazer pregas na costura, de pregar mesmo, e apregoar, de pregar naquele sentido transcendental, no pendurar tem prego e outros empregos podemos dar àquilo que sustenta e estar cansado. E nada a fazer, e um querer fazer sem faze-lo de preguiça.          Nossa, sustenta também tem prego?          Ele sustenta a família, o carro, sustenta o banco e os juros; são ou não sustentáveis tais condições das bolsas, inclusive alguém sustenta a bolsa no sentido de carregar pendurado.         E pendurado tem mais coisa ainda: veja que pendurado é o sujeito que está no prego e é insustentável; quer-se dizer que aquele cara tem altas dívidas e acabou cedendo ao banco depositário fiel