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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

A respeito de Zeus

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        Metamorfoseado, Zeus passeava no círculo comum da vida humana. Adivinhava o que viria a vir, o que se orquestrava no infinito, e fazia augúrios sobre a vida pessoal de cada um quem encontrava.                  O dedo falou: quem você    é, quanto o que acha que pensa? -  Estava a imaginar -  Sonhador. Sonhador. - Acordei - Insolente, acha que vou aturar isso, acha? Não imaginava assim a vida dos bichos. Olhei o pequeno monstro e me calei ante o turbilhão das arcadas, o vento forte, a indignada, trêmula e pavorosa sedição, a total e completa unha no mindinho carregada da fuligem, e o amedrontado tacanha medo de si. Pensei que a coisa rugia por mal de estômago, quebraram algum brinquedo e estava desnorteado. Porém notei que f aria dos seus pesares intestinais, o metro subterrâneo da fossa, o esgoto do seu consagrado templo. Vi que arrancaria a cabeça de qualquer outro, furaria na moleira e tomaria o cérebro com canudinho. - Será que tem a ver com meus pés, a falta de sandália, ex

Adoro temporal e mau-atendimento

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   Não é porque vivo nesta terra, em qualquer lugar é assim, Algo de nascença. Quando nasci, antes do médico me surrar, pedi um cinzeiro e que não desmarcasse o livro. Na verdade podia desmarcar porque sabia o lido.      Mais por mais, a escola me produziu um gosto antojado por coisas a cumprir. Vez e outra sinto essa vontade de sumir que me agarra e me puxa para beiras de rios e lagoas, no voo de ondas, do deserto de águas. Mas nem posso ficar longe de um vulto qualquer, alguém que como um âncora me faz saber que estou no planeta.      Ao invés de correr leio, a sobrecapa, e já sei das metonímias, das paráfrases que a vanguarda, a basfonda ordem catedrática de escrever o poema, se apropriou.      E onde estava até aqui, me pergunto, que diabos é isso de ir a uma loja e esperar da mente que o desejo de compra não se realize? Quero esse treco. Isso não é um treco. Na verdade, veja. A pessoa retira da vitrina, isto em minhas mãos é um aparelho para controlar o motor propulsor que abre, p

Sem trem

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   Estava indignado, um trem no mar. Pensava na profundeza ferrocarril. Uma cabina inexistente no último vagão. Olhava a paisagem basculante, aquela tremedeira de seguir viagem. Acreditava no flape e flape progressivo de aterrisagem.            Achava que havia locomotiva e voava. A linha foi vendida, a fazenda de trilhos, as paradas acabadas em todas as estações. Passava um comboio lindo, imenso, subindo e descendo meus cílios.           Carregava coisas, levava cemitérios, minérios, água de óleo. Cansava de ver o muro movendo. Acenava para os trecos. Tchau tralhas, valhas e calhas riquezas. Ficava revoltado, desalmado, vendia igrejas, derrubava bolos, comia as cerejas. Cavava espingardas de pensamento, perdi tento contando dor-de-cabeça. Rapava as ideias, era tão ferroviário.           Piorava no entendimento saindo do túnel do esquece. E me estagnava afogado na água parada. Abri o guichê, peguei a passagem, tiquei, bati o sino, ouvi, vai partir. Tomei uma aspirina, e melhorei, raiv

Derrame

  Derramar sonhos no azeite quente da frigideira racional, entupir a vida de absolutas certezas. Fingir coração essa gordura. Quanta dor etiquetada, de amor comprado na liquidação do brexó de utilitários. Desterro, ser formal anônimo de palavras, contra o pior: o crime metafórico das escritas, elas vivas e malditas.

Planeta guerra

O sol se despejava, mal se via o dia, apenas o brasido dourado que se envolveu em um círculo verde. Raios de chuva sem água. Levaram o meu corpo. Voltei de um passeio. Entendi aquele carrossel. Era só fazer um pedido. Acredita, eu estava na divisa com os paraguaio? Estava, e fiquei no ar, acho que voando. Não demorou, conto, carregaram Laíde. Fiquei moído. Se eu pegasse um marciano miúdo daquele, ia pregar a tulha. Atachava eles. Então, parei aqui. Ia chover, o céu feito milharal em brota. Coisa de anjo. Verde. Verdinho. Abri o silo e esperei. Caiu trigo sem gota de água. E mais, só no meu sítio. De resto foi borrasca. E foi isso. Acho que ficaram com vergonha, gente estranha, e pagaram o medo na semente. E olha que até sabiam que o milho ganhou preço. E agora, fazer o quê? Tenho culpa? Vou até Curitiba pagar promessa. No médico. Quero saber se vamos ter um filho marciano. Se for, vai ser verde.

Saiu do médico

Saiu do médico Velho amigo A cara de infestado enrolado chamois sem ouro Pode saber que não poderia ter filhos Nunca? Como está jamais Final de tarde a filha telefonou perguntando do exame Tudo certo? Ao que respondeu cheio de si Nunca estive melhor

Anda santo

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Anda no vermelho Discute que é santo sempre tem razão Sabe como é, amigo se estiver num grupo de apoio. Sozinho segue a ideologia do Carlos Márcio. Não diga! É consumista. O consumismo devia ser proibido.

Não guarde rancor

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Não guarde rancor nem sinta perda alguma sobre um futuro roubado e morto no presente. Empregue toda essa potência com destemor e merecido salário. E seja transparente, inteiramente mergulhado. A lâmina do rio afiado que corta caminhos evapora e chove leveza e tempestades. Seja grato por ser fluido e solidificar. Há tanto em ser nada. Amor que é. Absoluto, doce, repentino acaso de viver abrupto.

Se precisar

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Amor, por favor, não é que não te ame mais -Jesus! - nada disso, ainda te quero bem, ainda bate algo aqui. Melhor terminar na hora boa -não é mesmo? E mais a mais, sabe como é, o imposto do carro está chegando, a casa não está muito bem. E vamos crescer mais. Podemos até ficar amigos, pense nisso. E se precisar qualquer coisa, - pelo amor de deus. Olha. Vou fazer uma viagem curta, coisa pouca - aquela viagem, lembra? Não sei se pega celular por lá. Mas fica assim, se precisar, pode me telefonar. Te amo, beijos.

Cansei de hoje

Cansei de hoje Foi agora mesmo que me deu isso Assisti você na tv E a te ver te ver Pasmado de ontem Me enchi de ontem Derramo tanto agora Que sou feito do que foi do que invento que fica Estou lotado de passado carrego para amanhã o que nem sei Logo a tv E não saber o mais volumoso pacote que nem sei dizer Penso em ti todo dia Me abraçava e beijava até rir Depois desse dia no dia que virá só terei você e vejo que te vi quanto espero que te verei e te amarei como nunca antes te vi Pão doce e cafuné Bolo de fubá e serei saber algum nem nada que amor não seja saberei não saber teu nome a tua presença que lembro agora te vejo na tv estou a te ver te ver mergulhada no aquário dentro da caixa teus olhos e tua fala como te diria neste mundo fora Maria fosse Luzia que me contava causos quando podia acordar te ver te ver A infância foi sonho que estiquei para não te esquecer Posso morrer morrer sem te perder