O homem depois da separação

O homem depois da separação

PMNT


Separar sugere a impossibilidade de construir a união. Digo isso porque no que está unido a separação só pode ser realizada através de muito sofrimento de ambas as partes. Não é fácil separar, necessita-se de muitas marteladas para desunir. Se fizermos uma comparação com a carpintaria, vamos ver que a cumeeira de uma casa subsiste às intempéries devido ao conhecimento profundo dos encaixes, segue a isso o tipo de madeira, o formato de cada recorte, as variantes técnicas a serem utilizadas, além disso, a colagem, bitolas, a espessura dos pregos sem contar com o onde e como utilizar. A arte do arquiteto entra nisso como aquele que une e dá a tudo que está preparado o acabamento. Trata-se de um trabalho que dá forma e uma característica. Então uma casa pode desabar se não for bem construída, se não houver nela a união.

Assim o casamento, as relações afetivas também passam por um projeto arquitetônico de uma casa. As partes que a formam, as divisões, os motivos a serem aplicados estão da mesma forma integradas. Os materiais que formam as relações tanto objetivas quanto subjetivas devem passar por um programa de qualidade que garanta a sustentação do telhado relacional. A construção do lar tem essa necessidade evidente do fogo sagrado, de haver nele aconchego, nesse sentido, fazer a concha, proteger é a mais importante razão da arquitetura da união.




Unir, portanto, não pode estar distante do sentido de segurança e proteção, essa busca humana de encontrar no outro a parte que possibilita erigir com certezas se faz dependente de como vemos o outro, aquele com quem dividiremos nosso tempo existencial para uma profícua união afetiva. É importante também percebermos que se trata de integração de valores humanos, de frutificar saberes e de promoção do bem-estar.

Mas o mundo feminino é uteral, criador de criaturas, assim revertendo a casa como lugar mágico, e portanto, sagrado, o homem separado busca retornar a esse lugar deixado, e o o crê reencontrar geralmente nas coisas, no automóvel, no escritório, e, por fim em outro relacionamento. Tudo isso parece extremamente linear e complexo quando transferimos a carpintaria da casa para as relações humano-afetivas.

A história da família mostra bem como foram levantadas cada tábua da união. De um lado a mulher como moeda, como messe, lugar de plantio, de fecundidade, de mágica que faz brotar a vida, de subserviência, dependência do masculino para a conquista de seus desejos, suas vontades. E de outro o homem provedor, trabalhador, lutador, que segue o sol, que vai à lonjuras atrás de ideais, da caça e da provisão para a manutenção do lar. Essas categorias se apresentam das mesmas formas nas relações homo afetivas, a vida conjugal entre pessoas do mesmo sexo.

No mundo contemporâneo em se girar a ordem das posições definidas na história política e cultural perceberemos que as conquistas de direitos transtornaram o império masculino em direção a um mundo feminino. Passando de ser internalizado para externalizado, e isso se deu mais evidenciado em uma realidade que, sujeita à função e utilidade concebe a vida como um tempo marcado por altos e baixos e úteis em sua serventia para o desenvolvimento.

Nesse sentido, a separação aumenta a perspectiva funcional das partes em viverem suas vontades no modismo, em desejos efêmeros, em garantias dessa individualidade quem sabe dependente de uma boa pensão, e por outro lado a um consumo multiplicado por dois, e, portanto, aprovado pela perspectiva da coisa, isto é, dos bens e sua produção. Não se compra uma geladeira, na separação são pelo menos duas. Dessa forma, queremos oferecer ao leitor a possibilidade de uma percepção mais ampla do que seja a separação hoje. De um lado seja tomada de decisão em direção a uma vida singular desejada, e por outro se relaciona à produtividade.

É menos caro aos governos cuidarem de construir políticas para a família do que para indivíduos, melhor para a produção da indústria, grupos maiores em busca de trabalho, modifica-se comportamentos, atomiza-se os modos de vida, a funcionabilidade e utilidade são prerrogativas inerentes a um mundo de separados. A ideologia da separação verte bons resultados nos negócios futuros do que a união propriamente. Assim, a unidade do todo na psicologia da separação põe o indivíduo no mundo e elimina-se o coletivo comunitário familiar.

Mas essa teoria também tem sua caducidade, casais separados que se dão muito bem, e que vivem dentro de paradigmas de cuidados sociais, proteção e segurança aos filhos, manutenção das relações entre famílias originais seguindo discrições educadas de convívio. No entanto, o homem separado da família tradicional perde o seu chão vital proveniente da história sociopolítica que realiza a cultura. O homem separado se vê como um ente funcional, cuja função não é mais exeqüível nessa relação, tornando-se apenas utilitário como razão de sua existência.

Com a separação, aqui traduzida como emancipação do parceiro ou parceira, a vida do descasado masculino colocado fora do útero simbólico da casa a perquirir novos desígnios para a sua existência, não havendo como reestruturar-se. Nesse sentido é mais difícil ao homem a reconquista do seu ente feminino para conformação da união afetiva da família no sentido simbólico. A separação do sujeito no universo grupal, da vida em comunidade é a sua perda de identidade, e se faz como uma punição por não ter cumprido a sua obrigação masculina de provimento para a segurança e proteção, perdendo ele mesmo sentidos em uma vida individual.

Para ambos os lados a separação é a dissolução da comunidade familiar em direção de outra relação que promova a vida de sentidos, na antropologia e na psicologia social comunitária, isso se dá por ser o ser humano gregário necessitado de complemento, de viver em comunidade, de existir na união com o outro.

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