De tempo e rosas
De tempo e rosas
Pedro Moreira Nt
Não tive tempo em dizer quanto me amava. Podia dizer, amo eu mesmo
E havia aquela sem-cerimônia de amigos que abrem a geladeira.
Uma vida.
Todos dizem.
Uma coisa brega como a mulher que põe a perna para fora da banheira e acham bonito.
Elegante.
Essa história, sabe.
A gente produz desgraças, mas também produz graças.
Então resolvi naquela noite me formar em mim mesmo.
No dia seguinte havia aquela reunião com pastéis quentes e oleosos.
O grude com borbulhas doces e bolinhos molengas de açúcar.
Lembrei quando colocou dois brigadeiros nos olhos.
A cegueira amontoada que não ouve alguém.
Dois, dois de uma vez só e com uniforme.
Todos casados com o vôo.
Senão fosse amanhã hoje não teria sido
Não que esperança
Nem que tudo visse do que disse e fosse daqueles que de pétala caísse
Gritava presente quando ausente
Nem bandeira dormisse
Se tivesse o que risse
E chorasse o que existe
Como um jardim que quisesse
ainda na mão sinistra e
estranha
Levantasse
- porque arruinasse
o que ungiste
de perfume vermelho
Manchastes
E que nem pudesse, e jamais
acorrentasse
as palavras quando apanhaste
de uma vez o que proibiste
a si e ao que cais partiste
não desse uma vez mais
o que alma permitisse
barco vento de chuva
relampear de onda muralha
tombo
vela de flor consiste
marinheiro do amor existe.
Calastes
Eu não deixei de fumar, não deixei de fazer nuvens na esperança que Jesus tivesse algum solo no céu, mesmo enfumaçado, errático e não despencasse sobre a minha cabeça.
Mas isso foi há muito tempo, foi na escuridão e na lamparina, entende?
Dito e feito.
Fiz o que havia de ter feito faz tempo.
Alguém tem de passar vergonha por si mesmo.
Não é o outro, naquela hora não era.
Se houvesse uma flor ao menos
Dessas vermelhas que seguras
Ficam na mão esquerda
Uma única
Do tipo que ninguém aperta
bate, ofende, grita
Daquelas que exalam perfume
Vivem assim, arrancadas, retiradas e acolhidas
Se tivesse dessa flor
Teria o equilíbrio
e não sentiria dor, nem vergonha
que não sentem os que entregam a flor
para quem em movimento a leva.