Volte Cinde. Cinde, volte

Volte Cinde. Cinde, volte

Pedro Moreira Nt

Ela fugiu com os cavalos e a carruagem, jogou o cocheiro na estrada. Depois me acenou no meio daquele trânsito: Tchau otário. Isso que dá a mania de ser príncipe e não se valer de ser principiante.
Enquanto estava na roça ela comia o fubá doce.
Eu gritei: Volte Cinde. Cinde, volte. Nem na ativa e nem na passiva ela respondeu uma sequer palavra.
Inferno essa Cinde.
O trabalho que deu para achar e calçar aqueles pés enlameados. Agora não, terminou o curso de assistente judiciária e estará no segundo escalão, se não estiver entre os tais.
Acusa-me de assédio, de eu tentar humilha-la frente aos demônios de suas irmãs e aquela louca que diz ser tia.
Fico imaginando a mãe.
Cinde, você é linda, você é demais e tal, não serve, o negócio dela é fechar com a verba.
Isso não vai te levar a lugar algum. Pense, não faça isso, não engane, não engane a fada madrinha, não seja canalha.
Tudo isso poderia passar na cabeça dela.
Ela sabia o que queria, esse negócio de nobreza é uma bosta frita. Melhor com a burguesia, que se ganha mais.
O quê? Cinde, você mulher troféu de traficante de fraque?
Pare com isso, não seja ciumento, eu terei minha branca casa com os idiotas de sempre, e mais a mais, sabe que eu grito. Para você eu aceno, mas eles sabem, sabem muito bem que se mexerem comigo eu ponho as palavras no ar.
E mais a mais, esses bichos duplos, esses finórios cagões de fêmeas no colo, gostam de falar com voz de cuspe. Oi mô, benzia ño, ña. Eles fazem assim e é muito engraçado.
E ganho um cargo onde posso ganhar algum, diferente de ter encargo de princesa -rainha.
É, você tem razão. Eu devia ser analfabeto de alma, imbecil de profissão, ladrão e jamais me apaixonar.
Bobagem, até gosto de você.
Fica príncipe, manda vê. Não dá nada mesmo.
E mais a mais, sinceramente, você não tem cara de buldogue, não é assassino, como pensa que é a vida aí fora?
É. Tem razão Cinde.
Mas não vou devolver a carruagem que é cult. E nem os cavalos porque gostei dos bichinhos e agora eu sou ecológica vou vendê-los para um açougue vegano.
Tudo bem. Perdi.
Achou alteza. Achou.
Cinde, eu sinto sua falta.
Bem, de vez em quando eu posso vir aqui no castelo para lhe dar uma multa por maus tratos, daí a gente fica.
Legal.
Tchau.
Cinde, Cinde, volte.
Ela volta e diz: Diz, se eu ficar vai te custar muito caro.
Quanto?
Os olhos da cara.
Tchau Cinde. Volte para me multar.
E ela, andou de um lado a outro, fez um movimento brusco e tirou a caderneta do Ministério com símbolo e tudo.
Antes de tirar a roupa, tome um banho.
O quê?
Novidade no mundo da fiscalização.

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