Xícara

Xícara
Tive outras palavras antes de beber o café da tarde.
Eram jogadas do beiço
Fui ao fogão fumegante, ergui o molho escuro
E isso não é tudo - foi uma frase que queria dizer.
Um final de discurso, uma corrente que segura a audiência
A xícara de ágata de cor branca e luzidia
Poucas possuem pires. Elas são em direto.
Um gancho de esquerda que vai para o paladar como uma lembrança impossível - premeditada.
Está no acerto de contas. O gosto antevisto.
Segurei o pratinho desafiando o equilíbrio, a determinação.
Caminhei hesitando seguir mais um passo e realizando outro, desconexo, titubeante.
Queimei o bico. A lentidão maltrata.
Há de ser rápido. Médio-ligeiro.
Manchei o pratinho com o sangue escuro.
Foi um murro bem dado.
Não se pode segurar a platéia quando não se domina o que fazer com os tarecos.
Olhei para os desiguais, esperando um achado, um nariz de cristal.
Estavam chumbados, esperando o fim do discurso.
Vai chover hoje. Podia ser amanhã que eu dissesse que vai. Quase falei.
A asa importunada, imprópria agarrava os dedos.
Busquei a sutileza tentando desatarraxar a canequinha.
Não dava. A palavra não saía.
Dei um puxão, rolou o disco da mão, espatifou o grito
Saltou no absurdo, nessa antiguidade renitente.
Se fosse porcelana, se fosse frágil, se fosse extrema,
nada disso aconteceria.

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