Poesias






Estava tão linda que me ardia os olhos
Antes que me derrubassem
estatelei as mãos à parede
para ser desarmado
mostrar os documentos
dizer que ainda me possuía
e podia sobreviver a esse direito
o chão dos muros
Engatinhei até a farmácia
trombei nos sons de ofertas
na música estonteante
que metralhava contra revolução de meus sentimentos
os mais rasos que os passos suportavam
no cadafalso no balcão
ainda no escuro das órbitas
pedi ao astronauta
que me salvasse do vácuo
e ele atirou contra mim
acertando colírios
O mundo retornou
voltei à cancela
ergui os braços como me pediram
atravessei a fronteira
e a atingi com tudo que podia ser
Fiquei no gueto sem saída
onde os detidos se avolumam
escapei por baixo dos arames farpados
e me arrastei ao campo de guerra
e te alcancei ferida de minhas últimas palavras
Estanquei o sangue de todas as paixões
gritei o seu nome
e pude deter a morte
Fiquei contigo para sempre



A porta range
e o graxento entra
raspando a sua felicidade
de se achar único
Fale com ele
o azeite vil
bagre ensaboado
Ama a ferrugem
óxido carbónico
Saiu da oficina imunda
com engrenagens à mão
quer esconder os problemas
queimar as peças
O cliente vem amanhã
Dirá, não tem concerto
o piano está perdido
Foi o martelo
ao desengrenar
sobrou nada
Compro o resto
pouco vale
Se quiser
eu conserto
Na cozinha da sala principal
a audiência
está surda
Graxa risonha
escorrega
Orquestra
algumas palavras
E está desafinado
não tem alma
Abre a cortina
atravessa o palco
Vai ao trinco

bate a tranca















Pedro Moreira Nt


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