Monos das Arcadas

 


Certamente o teu professor não ensinou isso:

de que mono - que é mesmo único, raro, feito de mãos no ar, macaquinho que copia, faz a cópia, reproduz, e faz mistérios de inocência. E, do que seja fora do comum, a uma imitação de deuses, está contido em muitas palavras.

Seria monótono se os professores ensinassem essas coisas. Não se ensina nada aqui.

Arche, poder, portal de passagem, arquitetura do vazio, preenchimento inventado do passado, terror quieto que inventa a liberdade - fora dos muros de sua construção -, e assim como que vive no remoto, um indício de antiguidade, o peso de alguma história que subjaz às tradições.

A garganta do abismo, aboca amarrada nos dentes, cascata de salivas de um ser voraz.

A dizer que existe um império, o reinado de disperso, fragmentado por onde o contemporâneo passa. Abre-se a porta, o portal, nos metemos pelas arcadas, pela boca das falas, através das carrancas imensas que o trágico da história humana diz ser belo, - de bellus de guerra e sangue, com morte.
(A guerra só pode ser válida com a morte da infância, da juventude em marcha, um aborto tardio que cunha o nome de infantaria) - aceitamos isso como uma explosão de medo, de querermos alguma segurança - o que, contraditoriamente, a guerra tira - põe fora, para longe de todos em sua deletéria ação.

Arqueologia da ação de sobrevivência humana, mostra isso. Que mesmo em pedacinhos, em focos de luz em sangue, em morte, a vida guerreira, de ir à batalha, de lutar por viver se torna senso comum, uma - contra-metáfora da vida - distensão do significado em um sentido de sofrimento garantido, único, monótono, cotidiano no expediente do viver.

Esse mono de um-mesmo e bastante no acua, nos põe no medo diário. Queremos a proteção cruel de uma paternalidade que nos uniformiza e dá de presente por troca de tal artimanha, uma velada e incendida vantagem de servos preferidos.

O Mono salta, sobe na árvore, ri, imita a estupidez humana que logo, e é fácil, nos identificamos. Sobe nas coisas, nas tralhas produzidas, no ombro dos homens, grita, ameaça, se diverte, é o tal Ape que caminha, - de sustentar-se por um pé - de desequilíbrio, contrario ao bicho-homem, mas que se mostra ser por co-semelhança.

O primo Mono, Ape, primata que se faz único, dono do mundo, da propriedade mundana, de tudo o mais que percebemos, vemos que possui essa liberdade além das arcadas funéreas das construções civilizadas.

A Terra é dele, o mundo inteiro - apenas por refletir algo que nos falha, algo que nos torna ele-mesmo, como Nanos, Clowns, Bobos da Corte. Somos também sua propriedade.

E o proprietário apesar de risonho ou de seriedade que é a cara dos que são donos de almas e corações, da terra dele (só dele), se investe como verdade uniforme, uma solução um remédio contra o que mesmo chamam de liberdade.

A liberdade sob o domínio do reino. É como age, como aciona nossas memórias arches, arquitetônicas, casa da letra "h" com uma chaminé, ou com duas quando é portentosa, acastelar seu jugo, imensa, "H". Os antigos, os mais demorados dizem isso.

O reino dos faraós os fazem pequenos deuses, sacerdotes da propriedade da qual, as peças que o protegem, (uma contra-volta), são os submetidos ou súditos, a população, o povo e os povos que pisam em sua propriedade.

E teima em ser assim, e teimar é reinar. O rei reina, ele insiste em ser o que não é.
 
E agir assim, produzir algo nessas condições é temerário, perigoso, e sempre estanque. Ação por imitação pode ser de vantajoso interesse para muitos que ficam iludidos frente à magia das pompas e rituais.

E se tornam seres que não cultivam a terra, não obram, os nobres, e os demais, os que vão à obra, os pobres.

Mas, a história mostra que a nossa alma primária e primata quer como Vishnu abraçar o mundo pelas pernas. Eles possuem duas, fincadas no solo com suas cores reinantes, e por imitação, por termos apenas um pé para nos equilibrar, copiamos bem esse poder, inventamos o domínio, a propriedade de nossos cômicos reinos no circo da vida. Pé de pouca medida, somos mono aches.

Monárquicos no mais trágico sentido que o pavor imputa, de sermos seres que passam pela garganta, pelas arcas, as arcadas de quem nos devora.

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Pedro Moreira Nt

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