Responsabilidade de marca

 


Pequenas Falácias e verdades contraditórias


Alguém jogou uma marca na sarjeta, ela permanece nesse local até que alguém por vontade própria ou mediação do Estado venha a proteger a marca de sua publicidade aos públicos em uma situação de mendicância, de profunda miserabilidade.

        A coisa lá, estatelada a olhos vistos exige ação legal e de justiça. O abandono da fama, da gloriosa produtividade está ali à derrocada da civilização.

    Mas carregar uma marca, seja de um utensílio, de mercadoria em forma de vestimenta, e de moda, ou um outro bem enlatado é um meio de,  ao mesmo tempo se sentir algo-útil como poste publicitário, totem em movimento quanto de orgulho pessoal de ter adquirido algo que não o incrimina, que o identifica como aquele que adquiriu a coisa e a usa.

         E tudo tem seu tempo, a moda sai de moda. Vai ao empacotamento para o lixo, permanece com as pérolas de naftalina com demais guardados, serve de mote memorial de um estado de posse para o futuro. Veja, olha aqui o que a mamãe comprou naquele tempo!

        As coisas mais corriqueiras, embalagens de doces, balinhas, potes disso e latas daquilo, papelões vão para recipientes especiais para a devolução para a indústria. No entanto, quantas vezes se passa no parque, na estrada, praças, ruas de diferentes cuidados e se vê ali naquele lugar um bem civilizatório naquele estado de abandono.

        Muita gente passa ao lado da coisa e chora, não possui luvas e nem embalagens apropriadas para juntar do chão aquela alma que pede, por favor, me leve daqui, não deixem que saibam que venho dessa fábrica, daquela indústria, desse ou de outro importador.

    E não há quem tenha uma maca com rodinhas para levar a marca e o objeto onde se instala, o reciclável para a sua turma, para o seu grupo de raça, à forma autóctone de uma existência condenada.

Fazer o quê? Passa-se ao lado, finge-se não ver. Mas está lá aos gritos a marca, a origem, o número codificado, o algoritmo garantido de fim compresso. É uma contra-propaganda aos interesses da individualidade jogada no mundo social. É a exclusão grupal da coisa.

        As leis tentam reger, ensinar aos consumidores para que sejam às vezes humanos com as coisas e cuidem delas, lavem, limpem, organizem, numerem, ponham no dia e horário certos para que os responsáveis venham leva-los como um ajutório à pobre indústria que necessita da gratuidade colaborativa de quem tem o direito da guarda da marca.

        A marca deve ser devolvida condignamente ao seu proprietário. A guarda do produto pode elevar-se à responsabilidades em proporção do bem produzido, o consumidor que adquiriu esse nome por ter sido por anos o público-alvo, enfim, recebeu a flechada do cupido publicitário e adquiriu em termos, o produto.

        Nesse estado de guarda do bem produzido gera o depositário, e se ele se atormenta com o produto, com a marca e a põe fora à revelia, ele é tratado como um depositário infiel, um mal consumidor.

        Então, isso não pode acontecer. Coitada da marca nas mãos desses, elas serão excluídas dos guardados, das geladeiras, do camiseiro, do closet, do guarda-roupas e posta na rua. E isso é mal.

Devemos nos coisificar mais para entendermos melhor as coisas. Sendo coisas, saberemos o que significa o abandono da raça, de um Trend Market, de um Copyright, e da corresponsabilidade que temos com a produção.

        Sermos mais seres proativos, a desembaraçar o mundo enliçado de coisas. Devemos também ser entes da rede, estarmos nas tramas, no tecido estrutural da ordem sempre contactando, encontrando os meios para solucionar os problemas.

        A governança pública não tem como cuidar de tudo, faz um trabalho danado de ser o único mediador entre a produção e os consumidores. O bem social é a ação obediente do consumidor.

        E, certamente, o bem público é o que pertence à memória do capital, aquilo que foi produzido, que deve ser retirado do dever do Estado. A República não nasce sem esses acertos. Eliminar a rua com impostos, pedágio por exemplo, a educação, a saúde, e até os alimentos e a seguridade - o direito à aposentadoria que o cidadão-coisa comprova a trajetória de uma vida no trabalho.

        A rua é do setor público e não do público-consumidor. Isso porque o cidadão-consumidor deve ter a responsabilidade de agir adequadamente sob a propriedade pública que pertence aos criadores dessa ordem.

        Então, o que vai fazer? Excluir a marca, justamente ela que te inclui, que te permite no território feudal de sua existência lhe passar a guarda, torná-lo depositário fiel? É isso que vai fazer? Abandonar a marca, a linda marca que diz o tempo todo: olha, eu estou aqui, necessito de ajuda. E ninguém então vai ajudar?

Um e outro cidadão-consumidor andou pisando nas marcas, andou jogando mesmo na rua do público a coisa, a marca.

        E se justifica dizendo que não há lixeira. Hoje, sabemos, graças à evolução das mochilas que há no mercado, e nos mercadinhos mochilas para carregar objetos que tenham estampados as marcas. Custa comprar uma? Custa lavar, desinfetar, amassar se for o caso, guardar, empilhar, levar à lixeira em uma embalagem adequada para a reciclagem, custa?

        Sim, custa, mas é o dever do cidadão-consumidor.

        E se a coisa não tem marca alguma? Olha, aí é complicado, merece denúncia de maus-tratos a marcas escondidas, seja na forma, na carcaça, enfim, coisa de perito. Com certeza a marca está lá.

        Agora, veja, você passeia e encontra marcas por todo o lado, e você diz: dessa marca não compro mais. Perfeito, como cidadão-consumidor, seguindo os direitos prescritos, você acaba de explicar que uma coisa está aí por sua própria displicência de coisa.

        Onde já se viu uma coisa se jogar à sarjeta e se anunciar de importância quando está vazia de significados, dirá. A marca abandonada, excluída do convívio familiar, da vida social nos relacionamentos comunitários anuncia a si mesma como produto que não se deve, em hipótese alguma consumir.

Trata-se de uma luta retórica que alguém em estado de alguém pode pronunciar, e está correto. Mas alguém verdadeiramente técnico, completamente funcional e instrumental, uma alma retificada e integralmente coisificada, essa pensaria diferente.

        Por quê? Por que há a alteração por autoridade, não se trata de alteridades entre pessoas, se trata de alteração por autoridade que a marca re significa, que a marca solicita a um eu-coisa.

        Somente um eu-coisa bastante consciente de seu feitio sabe o que fazer quando encontra uma coisa, tal qual ele, abandonada, jogada às traças, dormindo na rua, sofrendo das intempéries, oxidando a olhos vistos.

Ter consciência de coisa, tornar-se uma coisa em si fará com que entenda o que a marca exige. Devemos nos tornar pessoas de marca para entender o significado e produzir os sentidos-significado da autoridade em marca.

Veja aquela marca ali, jogada na rua. Anote. Essa a gente não compra mais.

Responsabilidade de marca.

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Pedro Moreira Nt

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