Adoro temporal e mau-atendimento



 
 Não é porque vivo nesta terra, em qualquer lugar é assim, Algo de nascença. Quando nasci, antes do médico me surrar, pedi um cinzeiro e que não desmarcasse o livro. Na verdade podia desmarcar porque sabia o lido.
    Mais por mais, a escola me produziu um gosto antojado por coisas a cumprir. Vez e outra sinto essa vontade de sumir que me agarra e me puxa para beiras de rios e lagoas, no voo de ondas, do deserto de águas. Mas nem posso ficar longe de um vulto qualquer, alguém que como um âncora me faz saber que estou no planeta.
    Ao invés de correr leio, a sobrecapa, e já sei das metonímias, das paráfrases que a vanguarda, a basfonda ordem catedrática de escrever o poema, se apropriou.

    E onde estava até aqui, me pergunto, que diabos é isso de ir a uma loja e esperar da mente que o desejo de compra não se realize? Quero esse treco. Isso não é um treco. Na verdade, veja. A pessoa retira da vitrina, isto em minhas mãos é um aparelho para controlar o motor propulsor que abre, por exemplo a porta de uma garagem.

    Quero esse, este meu não funciona bem, copie o fluxo do parâmetro. Como é? O faça com que funcione com a mesma medida de onda. Está brincando? Não. Quero levar. Olha, se o aparelho não está a funcionar corretamente, saiba que, veja bem, se eu fizer com que funcione com a mesma paridade com o que possui, terá, mais de um problema, serão dois. Sei disso. Sabe e insiste? Qual o preço do controle remoto? Este custa o mesmo valor dos demais, está num chaveiro. O senhor usa chaveiros? Não.

    E para quê vai desejar um no chaveiro? Bem, posso dizer que é um problema íntimo. Não quer se abrir, conversar, posso ver como erradicar o problema. Do portão que mal abre com este negócio aqui? Não com as opções que estão à disposição. Não é para mim. Não? Na verdade é e também não é.

    O senhor é bom de criar casos. Darei de presente. Para uma outra pessoa. Outra que não eu, outra que, vez e outra me proporcionará o direito de entrar em casa, em minha residência apertando um desses botões. Como assim? Ocuparei lá quando o carro dessa outra pessoa. E permite que uma outra pessoa use o seu aparelho, essa é muito boa. Não só gente boa como minha esposa.

    Bom, nesse caso, penso, está a transferir o problema do seu aparelho para o de outra pessoa, que acaso, como me diz, é sua senhora. Senhora, nada, ela é minha dona. Então está que a pessoa que manda no senhor vai ter um problema com o remoto aqui em questão.

    Qual então deveria escolher significa que existe alguma técnica. Diria por peso, por eficiência, economia de gastos da bateria, formato de mão, tamanho, largura, espessura, e mais. Mais o quê? Garantias no tempo de uso, garantia estendidas, além do mais importante. E o que é?

    A marca. Nossa, nunca pude pensar nada a respeito, jamais me passaria à cabeça uma listagem dessa natureza. Nós temos aqui, se quiser levar para casa para estudar, um documento que mostra como um consumidor, consumidor mesmo, deve pensar em suas opções quando, por necessidade, força maior, enfim, queira comprar algo, como um aparato deste.

    Não, obrigado, tenho outras ocupações para pensar em ser o consumidor do ano. E há prémios, não aqui, em outras lojas que possuam maior variedade de mercadorias desse tipo. Muito obrigado, prefiro o dispositivo que está em suas mãos, o de chaveiro.

    O risco é do senhor, estou aqui para ajudar. Entendo isso, perfeitamente. Olha, me diz quase em cochicho, há uma empresa, certamente maior que a minha que poderá lhe mostrar uma infinidade desses que acabam por funcionar melhor, agora, para o seu descanso pessoal, eu aconselho que chame o montador do seu portão.

    Faça, o seguinte, faça funcionar este treco com chaveiro através deste treco que mal funciona, e pronto, e vou-me embora. Como quiser, faço isso ponderadamente e é rápido. Logo entrou num setor escondido, e logo saiu.

    A cara de venusiano, olhando-me de cima a baixo, como um sujeito negligente, como alguém desmerecedor de seus prestimosos serviços, jogou o chaveiro com o dispositivo sobre o balcão com certo desprezo.

    E me encarou seriamente. Não mais palavras, mostrou-me o papel da conta. Paguei-lhe. Vai chover, e a culpa é do governo, brinquei. Ele me respondeu, é só dobrar à direita, e verá, uma loja imensa, acho que nem vai se molhar. São excelentes.

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Charlie 


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