Sem trem


 
 Estava indignado, um trem no mar. Pensava na profundeza ferrocarril. Uma cabina inexistente no último vagão. Olhava a paisagem basculante, aquela tremedeira de seguir viagem. Acreditava no flape e flape progressivo de aterrisagem. 
        Achava que havia locomotiva e voava. A linha foi vendida, a fazenda de trilhos, as paradas acabadas em todas as estações. Passava um comboio lindo, imenso, subindo e descendo meus cílios.
        Carregava coisas, levava cemitérios, minérios, água de óleo. Cansava de ver o muro movendo. Acenava para os trecos. Tchau tralhas, valhas e calhas riquezas. Ficava revoltado, desalmado, vendia igrejas, derrubava bolos, comia as cerejas. Cavava espingardas de pensamento, perdi tento contando dor-de-cabeça. Rapava as ideias, era tão ferroviário.

        Piorava no entendimento saindo do túnel do esquece. E me estagnava afogado na água parada. Abri o guichê, peguei a passagem, tiquei, bati o sino, ouvi, vai partir. Tomei uma aspirina, e melhorei, raiva boa, tomava umas cervejinhas, até cantava o meu trenzinho caipira.

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Charlie 


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