Morreu uma amiga

 Morreu uma amiga. Ela sofria muito. Eu a amava. Depois de morrer, saiu do hospital menos triste. Disse-me mais tarde que a morte não lhe descia bem, a mortalha roxa, estragava os ombros, parecia ter perdido os ossos, não lhe confortava.

    E a que fez reviver, retornar? Qual motivo? Ela se curou de uma doença ética. De valores e decisões. Mora numa cidade fascista, completa de maus, ignorantes e de total insensibilidade.     

    Finge gostar de rock, de jazz, de artes e também de desfiles militares com gritos inumanos com os quais se obriga ouvir, no teatro e no guignol do jornal da tv, onde desfilam mensageiros, fora isso vai a encontros partidários e religiosos, presta a atenção aos conceitos, aplausos às truculências do estado, abraça as passarelas provincianas dos shoppings e se encontra com a indigência culta, toma cerveja, deita nos caixões de motéis, faz de conta que lê e vive de si mesma, da fantasmagoria. Por fim, vagueia por aí. Ex amiga. Acredita ser humana.


Postagens mais visitadas deste blog

Nada, como estar entre a gente

Clientes amigos

Na ponte, Maria