Veredas da salvação







 (para Luzia, minha parente mais próxima, a minha eterna gratidão).

  Veredas da salvação 


   Não se vê mais roscas em padaria como antigamente, eram esculturais. Círculo dos deuses, resumo sideral. O universo de polvilho não está todos os dias à venda. Havia memória de olfato, de forno à lenha e de mistérios contados no tilintar de xícaras e quedas de café e leite. Eram muito preferidas, os estalos de sua quebra, punham na média, comiam com prazer. Eu não. Achava bonito. Pediam às crispara reservarem aquele anel de Cronos. Eram comedidos chatos explicadores. Faltava-lhe a louca. O meu ativo patrimonial à mesa era o café, pão guardado. Sim, escondia-se o pairem um armarinho cujas portinholas eram revestidas por dentro com uma tela fina e verde. Notava sempre aquele arranjo, o pão vinha à mesa sustentado em uma bandeja invisível  cheia de badulaques ameaçadores, e tantos maneirismos. O pãozinho do  vinha coberto. Fazia tempo que andava por lá escondido. Os tambores em cada passo, o riso de clarim, e a apresentação do grande esperado. Cortes firmes e decididos. Esse pedaço primeiro era para a avó, o maior para algum preferido que se amontoava nas roscas. Os demais podiam se servir. A boa senhora notava, antes que pudesse usar a faca de serra-pão, ela me servia com um riso escondido. Vários pedaços pequenos, finos. Era o triplo de todos. Falava ao meu ouvido que é melhor com manteiga, experimente. 

O discerne levou a fugir das altas importâncias celestiais que se dão às exclusões nobiliárias ao fastidioso comum. A dificuldade das boas medidas, do compartir. Olho sempre à volta, percebo bem a violenta agressividade da maldade enroscada nas etiquetas. Vejo quanto é o terror que empana, a rudeza metida a se fazer séria, a cara enrugada de cenhos fabulares, afetação a ferradura no asfalto. Sei bem que não sou o único que conhece essas veredas de capim-gordura.


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