Se tivesse de contar quanto desamei

 








Se tivesse de contar quanto desamei
Deixei as roseiras crestarem no frio
abandonei por três horas o meu sossego
para ficar catucando pragas do jardim
Não telefonei e nem atendi ao telefone
e nem livrei a metade do discurso sobre construção
revi páginas sem motivo e pulei figuras para achar vozes
fora isso às ausências: dormi mais tempo perdendo o início do dia
- que nem me importo
Cansei de ser correto quando entrei na contramão
- foi engano
Atendi ao cobrador; o que é uma perda
Poderia dizer qualquer coisa porque estou cheio
Vejo o som do piano desafinado
o meu batuque esticado
Passar a rever o revisto
retomar o refeito
refazer o feito
Reter a gelatina trêmula
Congelar o frio com o maior calor do desperdício
Gastar o que não existe no caixa
Correr até disparar o coração
Ir pescar sem porquê
Morrer sem tédio
uma alegria triste que é rir sem mostrar a face
E desamar é quase esquecer a vida
correr à toa sem compromisso
como agora
derramar palavras

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Livraria:

Charlie

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