Clientes amigos

 


Não sei, não posso dizer muita coisa. Estava conversando comigo mesmo, carregando meu carrinho de mão com a escultura de isopor de letras: eu. Não pude me perceber que eu estava pensando errado. Converso comigo para me solucionar, nem sempre é possível se entender.  Meus clientes amigos moram bem. Não conversam, mandam recado, eu prefiro dinheiro, mas custa tirar deles.

Só caboco deitado. A grana vem pela torneira. Inundação. Quando chove lá, a gente deve entrar em casa por causa do peso das moedas que caem. Vivem sufocados; chove muito pó de prata. O sol de ouro escorre lá. Fogem para lugares mais sombrios. Eles têm medo da incrustação social. Perderam muitos familiares que viraram estátua de ouro. As noites de lua.

A lua é uma moeda divina. Temem que despenque do céu. Que Deus os ajude, jogue a moeda para curar suas vidas miseráveis. São gente da pedra, dentes de peixe, transparentes. Olhos de diamantes. Pele rubi no verão. Cara de topázio. São de ônix e de outras tribos. Foram trombadinhas; ganharam fortunas com seguro e acertos - o nome de um tênis que usam para chutar estranhos.

Odeiam estranhos; nunca se vêem no espelho. Gostam de monumentos, carros, casas imensas que se auto fabricam em cascatas. Jogam, apenas jogam. A vida é um jogo no mundo que é um casino. Nome de um é Oitavo, Primeiro, Trifeta, Passa, Corre Logo, Quina, Tunguete, Loteria, Robox entre outros. Não conhecem a cidade porque as evidências da bolsa indicam que riscos gratuitos não são motivações de investimento. Conseguem ler melhor que muitos, mas números principalmente.

Gostam de livros que contam sobre o horror da história - essas coisas fora do cotidiano deles. Histórias de suspense, amor perigoso, propriedade afetiva, romances de fim dos tempos. Lêem livros que justificam as suas vidas em sacrifício, e para um charme, filosofia para negócios. Auto ajuda, senão fossem esses livros morreriam de tédio. Vivem com papéis futuro. A única coisa que realmente fazem com desprendimento é cobrar um pequeno pedagio para que os estranhos assistam propagandas da valorização imobiliária da qual são investidores. De resto, sempre beijam um concorrente ante a necessidade de eliminá-lo.

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Livros do autor


Charles

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