Ainda volto para o lugar onde não estive
Eu me lembro. Meu tio. Design da terra. Modelo alemão, e a história disso. Dois carburadores. Meio que um prato para cima e outro virado à breca.
Ele dirigia, minha tia regia aquela comunhão, e nós na boa exclusão. A estranha minoria. Um lado eram os legalistas familiares com assuntos do jeito deles.
Do outro lado, a expectativa de uma parada e guloseimas como prêmio de bom comportamento. Carro verde. Duas portas. Setenta e pouco. Brasília.
Depois tornou-se ex carro. Acho que é assim.
Única viagem. A volta para casa. Por que voltar? A gente volta; a vida mesma. Urna quieta de poucos pensamentos, e tudo reina. Queria ter ficado onde não me queriam. Havia lugares lá, onde o cidadão infantil podia rir de dentro para dentro. Ainda volto, amarrado no silêncio, sem espantar palavras, sem olhar demais, sem essa democracia chata que tenho no peito onde não sou número certo. A quantidade menor. De longe, quando me distancio, quando carrego os mais pesados volumes, entro pela porta da frente e vivo. Antes, faz pouco, eu ria em público. Hoje não subo nos palanques dos meus sapatos para dizer. Ainda, sei bem, - apesar que tenha quem vá comigo remar, atravessar a terra plana -, estou voltando. Volto para casa. O lugar sem forma, o lugar onde estou e nunca estive.
Ouço o rumor, vozes no portão, perguntas patrocinadas, vultos, gentes invadem o jardim.
Haveria um largo silêncio onde ouço a voz de quem está a meu lado - é um espaço de vazio, e está muito cheio.
Vem para mim quem ainda viaja. Que eu possa saber receber, onde mais não estou, repleto de minha ausência. Saiba dizer amor em um respeito de sentimentos.