Um copo de ilusão pode até ser um sono sem sonho

 



Um copo de ilusão pode até ser um sono sem sonho




O guardanapo limpo, arrumado, triângulo deitado no bojo da mesa

Falas lentas, vozes mastigadas, tons de riso duro e sério, quietos narizes de legumes cozidos. A borda toda da taça está manchada. A perna à esquerda, contrária da faca foi para a direita. Pés conversam. O submundo entrelaçado. Cotovelos, remos que se debatem nas orelhas. Uns palavrões dançam sobre a vida alheia. “A vizinha comprou um carro pérola.” Pérolas que vieram do mar. “Ela buzina quando chega em casa.” A toalha ressequida tem uma poça de sangue. As pessoas mortas às vezes coagulam. Fosse vinho branco não teriam más lembranças do que no passado, não longe, cometeram.“Comprei ovos, vou fazer feijoada no sábado”; corre a saliva amarela. “Olha, uma coisa não dobra a outra sem a tampinha da garrafa.”Crispam garfos e facas, a contenda segue. “Estava um amor a sua torta de porco, parece gelatina, treme.” O velho sorriso odioso do cinema de hoje faz um corte pá um plano de detalhe mascado.

Um vulto entra pelo pensamento. “Escondam o frango no armário,” precipitação de chuva nos olhares. O frango desaparece, alguém à porta: “É mamãe!” - e era. Ela que com muito cuidado ensinou guardar as guarnições quando um pé sem cabeça aparece. O guardanapo limpo. O dia florido. “A CBF vai jogar hoje.” Buscam assuntos.

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