Embalagem
Embalagem Pedro Moreira Nt Ela chegou com o seu jocoso jeito de perguntar: o que estás a inventar? Respondi-lha: augures amiga. Ninguém responde isso, mas faz de conta. Eram olhos oleosos, densos e suspensos de interesse. Olhava algo, e também olhava os lados. Uma cinestesia estudada. Sentia na pele. Nada podia falhar. Aqueles olhos, eram aqueles olhos. Meio, a dizer, estou aqui por acaso. Súplica e condescendência. Alegria e um certo desnorteamento. Entra. Eu a via mais vezes no elevador. Às vezes a gente se estudava. Baixa a cabeça e seguia ao fim do poço. O térreo. Um encanto. E fique à vontade, senta aí. Mãos enroladas naquele casaquinho. Dei atenção a essa estranha entrada encabulada. À mesa eu me remexia no que anotava. Fazia isso para disfarçar aquela dor na garganta que subia. Escrevia enquanto conversávamos. E a vida? Disse-me sem despregar-me os olhos dos olhos e aos meus dedos tortos. E não havia como: Vai sem interesses. Na verdade, todos os inte