Nota de esquecimento
Nota de esquecimento: A vila tinha seus infortúnios, a vila de vilões cheios de perigo, causava certa ameaça nos sentimentos, a gente ficava com a alma sentada, as noites mornas que matavam a claridade, qualquer bem. E se dizia que se amava quando não corria muito pavor, uma bebida amarga, dor de vida e desejo de esconderijo. Marianize tinha os olhos inchados, graves, pesados, pareciam duas bocas abertas, vermelhas, sem dentes, profundas que quase falavam. Fugia do Japinho, que era como uma caixa de pinho. Casada com ele no papel esticado na mesa de algum juiz distraído. A boca, como era linda. Parecia um olho imenso, vermelho, de íris de fundo escuro como um túnel, um fim de começo, uma voz de cílios de junco à beira de um lago, moventes, dolentes, leves e como bigornas escuras com verde farpado. Gostava de mim, me achava boa pessoa. Olhava para mim como uma mãe que esqueceu de perder os nove meses incansáveis de espera intermin...