E em casa
E fosse de tarde, dessas ôcas, iria pescar. Levar o cão à corrente do rio, fingir cansaço, café frio, pão guardado, dividir com o bicho minha alegria de viver. Apenas com ele, porque outro algum entenderia. Em casa outra vez e novamente cheio do não dito. E voltaria para casa novamente, muito tarde, madrugada, de carona, o carro esquecido ao lado do teatro, deixado na rua do centro, e voltaria ao trabalho a pé, quanto fiz disso, para ter a sorte de encontrá-lo e sair para dar uma volta a fim de perder o esquecimento. E cantaria à tarde, massacraria o piano, apitaria as cornetas, riscaria o ar com flautas a machucar ouvidos duros, assim com tomaria banho outra vez na chuva e me deitaria no jardim sem ouvir nada mais que a voz das nuvens. Estou em casa, um silêncio que bate às paredes, ninguém que ouve o que digo houve. E faria tudo de novo, com a mesma alegria que tive. Todo o meu bem estar que me roubaram. Em casa, tarde, fome, como um prego, pão com