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Não guarde rancor

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  Não guarde rancor nem sinta perda alguma sobre um futuro roubado e morto no presente. Empregue toda essa potência com destemor e merecido salário. E seja transparente, inteiramente mergulhado. A lâmina do rio afiado que corta caminhos evapora e chove leveza e tempestades. Seja grato por ser fluido e solidificar. Há tanto em ser nada. Amor que é. Absoluto, doce, repentino acaso de viver abrupto.

Jogar bola solidão

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  Diga nada solidão. Estou cansado de sua inutilidade em toda quantidade de sua tímida unicidade. Vou jogar bola. E bem longe, para dentro do azul escuro da teoria das cordas. Serei livre do atavismo de sua antiguidade, da  taxonomia das classificações e do determinismo barroco das volutas como solidificação do ser social. Reificarei o que sou no vazio de sua tautológica ausência. Vai segurar guanxuma.                Vá às pedras enfermidade viral das prontas certezas. Ouça o óbvio. A canção do incontido. Solidariedade, o derrame econômico da piedade. A humilhação que humildemente pede, e está frente ao templo dos descrentes. Solução do voo em plasma, chute certeiro à distância no imediato. Provo a curva ascensional. O infinito nos pés. Imaginou que podia descansar sobre minha corcova e correr o espaço sem tempo, azar. São mais que o poder do arco essas lanças apontadas, quanto mais se passa o caminheiro. Girar o corpo antes que a história pegue no baque. É toda tola, enrolada em si me

A vida muda com Rei

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    Veio cedo, bateu à porta, entrou sem pedido, correu estagnado um ruído de qualquer coisa de ferro. Andou sem medida erguendo os panos, afrontando o ambiente, no fim, achou o que queria. Segurou nos dedos com gosto, medindo peso, passou a entrada balançando as mãos a dizer que não se importava com ninguém, que o mais, era a si mesmo que se interessava, sem se dar conta de ter feito o que fez. No portão, deu um risinho de desdém, como ameaça. Entrou na lata, bateu a guirlanda e se foi.      O que era aquilo, que coisa se deu sem tempo de uma machadada? Quem diabos veio e me tomou de pronto-atendimento, vazou minha vida com unhas e garfo? Ali no ar do brusco, estava passado, entregue ao desatino. Me senti no papel de SAC virtual, inexistente. Aperte o botão para avaliar isso. Quem era aquilo?       Vento entrou, tombou o abajour, abriu a cortina, derrubou o copo de água e desapareceu. A cara de crupe a dizer ''não me ponha no sereno, nem tente; afasta teu sangue''. Par

Responsabilidade de marca

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  Pequenas Falácias e verdades contraditórias Alguém jogou uma marca na sarjeta, ela permanece nesse local até que alguém por vontade própria ou mediação do Estado venha a proteger a marca de sua publicidade aos públicos em uma situação de mendicância, de profunda miserabilidade.           A coisa lá, estatelada a olhos vistos exige ação legal e de justiça. O abandono da fama, da gloriosa produtividade está ali à derrocada da civilização.      Mas carregar uma marca, seja de um utensílio, de mercadoria em forma de vestimenta, e de moda, ou um outro bem enlatado é um meio de,  ao mesmo tempo se sentir algo-útil como poste publicitário, totem em movimento quanto de orgulho pessoal de ter adquirido algo que não o incrimina, que o identifica como aquele que adquiriu a coisa e a usa.            E tudo tem seu tempo, a moda sai de moda. Vai ao empacotamento para o lixo, permanece com as pérolas de naftalina com demais guardados, serve de mote memorial de um estado de posse para o futuro

Meus Sentimentos

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Meus Sentimentos Pedro Moreira Nt  Antes do enterro apareceu uma quieta de olhos esfregados. Sentou-se distante. A esposa a encarava.      Os filhos repararam nos cabelos encaracolados na testa.      - É alguém conhecido?      - Não é alguém distante.      Perguntaram cochichando, mãos em concha.      Ela respondeu: a mãe de vocês.      As crianças, assim a chamavam, não entenderam o que a mãe dizia. Eu não pude ter filhos. O seu pai cuidava dessa rata. Peguei vocês todos para que tivessem pai e mãe.      Antes de partir ele foi visitá-la, ele levou o meu relógio com estrelas de diamante para esse bicho. Morreu, vocês sabem. Morreu porque andou se esquivando de uma dívida de morte. O marido dela o matou, eu sei.      Eram uma menina e três meninos já crescidos, com os doze. Eles viviam apinhados no colo da Gemina Rafaela, a mãe postiça. Ela os ensinou a não ter comoção. Quando souberam da morte do pai estavam no terreno baldio fazendo fogueira e soltando bombinhas com uma t

se invento que sei

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   Se invento que sei, se o argumento bate na barriga das prescrições, se afundo o joelho na cara das certezas, se ponho em consideração os séculos passados, das dúvidas empanadas no forno das conveniências, se uso a lábia para espirrar tomate na lógica racional, se assombro os mortos destelhados desse mundo com empírico conhecimento, se me faço de jumento e me estrangulo feito avestruz e me domino com toda estupidez, se não percebo a vida do bicho, se as minhas crenças varíolas fazem almofadas na pele contra ressentimentos, se aponto o dedo feito lápis e escrevo nos olhos da dúvida as correções, se nem questiono o assunto porque não duvido da inconsciência, se subo no potreiro quando as patas passam dilacerando o chão em movimento, se me jogo no precipício porque é raso o vento, se quebro a linha dos significados apenas por ficar injuriado com a verdade, se jamais provoco novos sentidos e sigo as ordens das direções arrumadas, se aceito que assim sejam, a natureza das coisas que tri