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Livraria café-teatro Mairiporã

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            A temporada súbita de sonos, o delicioso despertar, a vida sem dormir. Arrastro de nuvens permanentes e o descompromisso porque se fechou a torneira, uma chantagem emocional do velho sadismo esquizofrênico que me permite o descompasso de ficar com sede, e melhor, sem banho.           Queria menos a zoeira do outono da vida, queria viver sem banha. Mas aí está o abrupto, o policiamento em busca de alguém honesto para algum tipo de exemplo, bode expiatório da pujança negativa em que vivemos. Avisei a meu pai, não saia de casa. Ele nonagenário, sabe bem o que significa viver às escuras no deserto.           Sadismo protegido, velhas crianças afortunadas com carteirinha de clube. Vou à livraria ver se como um pedaço de árvore, quero morder até a copa. Sentar-me lá à espera de um café. Aqui não se produz mais. Passo frente ao teatro descerrado. Alguém vem para um assalto, finjo conhecê-lo de alguma departição. Escorre pela viela em busca de bitucas. Corro ali no descanso que por

Hora de dormir

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  A estranha noite levada ao dia. O campo morto. Os brinquedos violentos de faz-de-conta, redenção do crime com a lascívia protegida, amor de ferimentos, a vontade da dor educada, ensinada, treinada. Síndrome do capataz, redivivo, e faz experimentar o gosto, a ser divertido a miséria alheia. Sadismo das moralidades tecnológicas que acompanham o manual apostilado. Do fácil ao difícil com intervalos explicados. A guerra vem antes do primeiro projétil entrar na carne, antes da mira e do lustro da arma. A tua voz, o teu olhar, pele e ouvidos, o aprendido que constitui a sua quieta crueldade. O infortúnio da tua vida, a última palavra, desde a primeira, jamais superada. E não entende o que digo, não pode. A vaidade é assassina, possui a identidade acomodável, flexível como um instrumento de utilidade, a coberta versátil do mau que sempre foi que é encoberta. Chame a guerra e ela virá com sua bandeira branca. Parece que sabe o que digo, guarde seu brinquedo debaixo do travesseiro, é de plást

Veredas da salvação

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 (para Luzia, minha parente mais próxima, a minha eterna gratidão).   Veredas da salvação     Não se vê mais roscas em padaria como antigamente, eram esculturais. Círculo dos deuses, resumo sideral. O universo de polvilho não está todos os dias à venda. Havia memória de olfato, de forno à lenha e de mistérios contados no tilintar de xícaras e quedas de café e leite. Eram muito preferidas, os estalos de sua quebra, punham na média, comiam com prazer. Eu não. Achava bonito. Pediam às crispara reservarem aquele anel de Cronos. Eram comedidos chatos explicadores. Faltava-lhe a louca. O meu ativo patrimonial à mesa era o café, pão guardado. Sim, escondia-se o pairem um armarinho cujas portinholas eram revestidas por dentro com uma tela fina e verde. Notava sempre aquele arranjo, o pão vinha à mesa sustentado em uma bandeja invisível  cheia de badulaques ameaçadores, e tantos maneirismos. O pãozinho do  vinha coberto. Fazia tempo que andava por lá escondido. Os tambores em cada passo, o riso

Encostas altas

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  ####### Charlie 

Pescar

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 Cana seca, tega dura, tabocal de veredas. Cancha esse pedaço. Crepa essa medonha. Vê na capa da cara que não se dobra nó de taquara. Tabica essa da ponta leve, muito no meio. Faz a conta de três laços. Messa o lance, deixa corda de dois palmo, ata chumbo solto, entra o curvado. Senta que está afiado. Vê a copa para não entreliçar. Canta, trata o lindado, fio não dorme na àgua - te falei, vai à bonina da capituva, e já arresta teu silêncio, se é que tem. Põe solto. Se ergue meio debaixo. Cata verme, no baixio do toco. Alanta o coiso, faz vivo. Na espera. Pega nada, quê! Sola o carretel que já passei vela, nem noza. Atira o anzo carregado. Se acomoda. Atende. Queima essa palha. Piuim não achega, lambuzei de azeite e água do arroz descansado. Tá grudento, menino. Vem nada? Vai ver. Anda moleque. Se mover uma palha te arranjo. Verdugo manso. Deixa a pena volver. Põe tento, ela desfila. Segura. Agora rancha. Aí, tá vendo. Foi feito. Pegou um baguá. Retoma. Põe na fieira. Larga no poço, ata

Irmãos

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 Irmãos, disse o velho. Aplaudiram. Irmãos, novamente bradou. Irmãos, insistiu.  Alguns da praça já riam, zombavam, assobiavam. E outra vez mais: irmãos! E ficaram irritados, cochichavam entre si. Apontavam. O estranho rabi ergueu as mãos e gritou agudo com todas as forças: irmãos! A turba enlouquecida  vaiava. Idiota. Irmãos, como agora sabem, o ódio é mais fiel que o amor.

Quebrou a tampa da garrafa de água

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  Quebrou a tampa da garrafa de água. Partiu, se destroçou.  O que significa? Sorte.  Água em abundância, benção de batismo consagrado. Fluidez, alegria.  Abertura de verde esperança. Criação, encontro com a pureza.  Valores de transparência e compreensão. Mudanças para o bem-estar, reconhecimento. Cura, amor aos bons desígnios.  Reciclagem das perdas, novos ganhos. Atenção ao de pouca monta e percepção de si, a ponte via que se encaminha ao belo inesperado.  Ablução espiritual. Pôr fim ao que é inútil, eliminar pesos e socorrer as dificuldades com pensamentos  elevados. Significa compartir, tornar-se o ser amado, e amar.  Trocar os vasilhames, eliminar o desperdício, decidir, escolher e rir do engano, da gambiarra, dos esforços sem sentido para a qualidade do produto, da coisa e das relações humanas.  Dignidade pessoal no ato sinalizado, eliminar problemas. Compre outra garrafa.