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DESTAQUES

Dormir no despertar

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  Ontem dormi cedo, eram quase três e vinte e seis mais. Foi tarde o amanhecer. Fechei na cincuenta e sete, o parágrafo caiu meio repetido com a vinte e sete. Vi por dentro de umas dezoito mil palavras sem despertar. Pouco para quem rasga livros e cobertas, não vejo diferenças. Então fiz a receita, ir ao fogo é o mais complicado, ver as caras, ser visto - coisa. Vão ossos vãos. Pouca carne, e uma ervilha seca entre orelhas. Corre duas quadras sem se jogar e ralar os restos de pele. Aí vai ao alvorecer em temperatura variável para embatumar, fique quase triste para alegrar velhos desconhecidos. Esqueça a arrumação do entendimento. Acrescente uma placa que poucos podem entender: Au nom de votre croyance, a tout les espíritos que vous peut encontre, laissez notre vie en paix. Pode entender que, no forno cerebral será compressible. Isso devia ser duas e dezenove. Levei para a geladeira e aproveitei à mesa das treze e onze, foi quando notei. Faltou a sobremesa que bato agora no le mal. ...

Usar gravata

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Neste colegiado existencial, no grupo escolar das nossas relações, nós temos em primeiro lugar o NÃO, o SIM só será adquirido no jardim infantil de interesses, ganhos e perdas, vantagens, com as humilhações como sagazes, força militar do direito,  a que chamam politica - e uma política instrutiva que segue regulamentos e receitas bélicas - ,dizem ser educativa. Perdemos, mas sobreviveremos. Aprendi num filme ruim, estrangeiro, mas com o pé enfiado na malandragem, na listagem  clichê da forma, na usura do sentimento, do roubo das emoções, que devemos usar gravata, podemos bater num carro de um rico protegido de um grupo de ladrões que se acham livreiros, estão no altar mais elevado da cultura, ou sermos cobrados pelo que não fizemos pela polícia dos inspetores de quarterião, sermos derrotados no imposto, difamados, nesse lugar que não aceita nem mesmo o cidadão na sargeta, onde a arte é uma imposição estética da cópia industrializada do óbvio posto ao público, aqui onde a ignor...

Perdi hoje o que mais sou

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     Ele se foi, um pouco de mim se foi. Acho que muito. Ele era melhor do que as pessoas que um dia conheci. Talvez, nesse momento de tristeza e dor que sinto, estejam bem por saberem que sofro. Essas gentes que me exploraram a vida toda, roubaram meu tempo e rasgaram minha inteligência, querendo tirar de mim a minha loucura, a alegria que vivi, procurando alguma definição, a me esmagar em potes, explicar o que meus modos dizem,  me pôr em  vidrinhos para me apontar quem sou.       Quem sou? Eu sou esse que perde, todos os dias devido ao egoísmo e maledicência, que depois de longa viagem podem apenas me oferecer um jarro com água da pia, sou hoje alguém que deixa a felicidade para os que possuem coisas e nunca conceberam qualquer bem de viver senão o rancor e ressentimento, esse ranço de crueldade da espécie, que me levaram os pratos da mesa.      Essas carnes frias que só podem rir de verdade com o sofrimento alheio, eu que j...

O ridículo em ser maltratado

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  Só quem foi torturado sabe disso. o ridículo é algo que não está na vítima do assédio, mas na avaliação entre o sofrimento e a tortura. O ridículo sobrecai nos valores, em algum sentimento humano reconhecível, passível de ser percebido que escapa à agressão como posição. O ridículo, o vexame que o outro passa devido a agressividade de alguém, é um sentimento universal de culturas e valores morais que são exigidos, retirados, definidos, contrários. Só a vergonha pública que alguém possa sentir representa, na própria humilhação o tamanho, a medida dos valores socioculturais, de uma ética que aflige, atua, se manifesta. Seja quem for, culpado ou inocente, a vergonha sentida é apenas uma avaliação emocional de uma racionalidade habituada. Quando os hábitos morais, mesmo em sua morosidade, se definem como novos, pode destruir quem o avalia na experiencia da vergonha. Passar vergonha é estar eleito como contrário aos hábitos e aos valores, ao sentimento de integridade de constituição d...

Palavras a Completar de Mamãe

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Palavras a Completar de Mamãe   Mãe não é fácil, igual a minha: ela cria uma lista de compras acompanhadas de frases a respeito de suas vontades, gostos, desejos.      Acontecia durante passeios, momentos de encontros familiares.      Suas pequenas exigências, como que mover o campo e semear, fazer florescer.      Deixava ao acaso, digamos, no assento do carro, no bolso de meu casaco, e, especialmente quando me visitava, como marcador de um livro, na fruteira dando sempre a intensão do acaso.      Resultava que sempre estava provida de tudo quanto necessitava. Com isso íamos mais vezes às livrarias, adorava os sebos, trazia na bolsa um pedaço de qualquer coisa e mimava os gatos e cães que haviam entre pilhas de livros, recostados em um tapete.       Fazia obstinadas trocas, exigia pechinchas. Frequentávamos o teatro. Havia repertórios, dramas, clássicos, comédia, amava.       Claro q...

Entrada

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   Poderá entrar quando ela não estiver à porta. Entre devagar porque poderá surgir atrás da cortina da sala. Mas venha com calma e não traga outra esperança de nos encontrarmos. Ponha bom perfume, aquele que gosta, assim irremediavelmente disfarçará, e qualquer manifestação será imediata.      Teme o desconhecido, o invasor iluminado. Ao abrir o portão faça ranhar as dobradiças, duas, três vezes. Se ela surgir repentinamente, - dará tempo de me despejar bom sentimento. Use algo à cabeça, bem provocativo.      Verá que o salto que der em sua direção demorará um pouco mais. O suficiente para que se encerre no mundo externo. Venha com a roupa que desejar, mas use botas. Dessas que seguem a quase joelho. Não deixe de entrar, fale alto e chame o meu nome. Sinal de alarme e batidas de palmas ajudam. Se notar a ausência corra à porta que abro em seguida. Poucos degraus e suficiente.       Antes de me abraçar olhe ao redor. Pode causar...

A bola de plástico colorida

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       Eu passo em frente da casa e vejo no jardim sem cercas uma bola de plástico colorida, não era muito grande, aquilo me dá agonia. Como se fosse explodir, ou perder sua inteireza, murchando, tornando-se nada mais que abandono obscuro do que poderia ter sido, e não foi, minha imaginação diz que sim. As cores são vibrantes, ela inteira.      E no dia seguinte retorno pelo mesmo caminho e a vejo, cabelos soltos com uma jardineira de jeans, um riso de boca aberta jogando a bola para o ar e a pegando novamente para em seguida repetir, jogar, e se levitar no ar. Eu a vejo envolta na bola, abraçada nas cores de geléia, no açúcar da gelatina, subindo e descendo a ponto de me causar medo, que fosse perder-se, subir sem retorno, de cair no fundo obscuro do gramado, de voltar do meio dos arbustos com a cara mudada em prantos.      E retorno quase noite para ver novamente o que já sabia, a bola flutuando no ar, a menina deitada na bola feito um...