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O sequestro dos 20

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O sequestro dos 20                                                      Pedro Moreira Nt                    Queria que tudo mudasse que acabasse em pizza de planalto, coisa grande, que houvesse uma greve tão completa que o patrão me olhasse na cara e dissesse: engraçadinho. Você deve estar pensando que sou eu quem está pensando isso, não sou eu: é o Ernesto.                  Ele está no ônibus branco. Ônibus de indústria de trabalhador. Mas hoje, incrivelmente não está indo para o trabalho. Às cinco horas da manhã antes de muita gente ir ao banheiro, ele se encontra sentado naquele vagão móvel, naquela coisa poluidora, no cata-jeca, na ratona, no sovaco, escafandro, jardineira, no coiso , na lata de sardinhas que não passa de um caminhão seco, duro, desconfortável e barulhento que carrega muita gente para pagar um só.                 Você pensa que isso não é certo, quando vai lendo balbucia algo. Talvez diga: Não pode ser. O Ernesto faria isso. Ele ficaria daquele

Demonstrativo por nome

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 Demonstrativo por nome             Pedro Moreira Nt             Quero lhe dizer: este carro é bom. Digo isso porque esse aí já me deu problemas no tracionar de cargas. Sabe como é. Aquelas coisas da vida, um bom trabalho necessita de que se lho leve. Nada contra àquelas idéias que se tivemos, foram. Palavras de mal refinamento não servem. Ma fazer o quê? Vou chegar aí para que entenda. Bem, aqui estou. Este material não serve porque foi mal acabado, faltou destreza do construtor. A tenda é leve, mas os paus pesados. Ninguém faz coisa assim, sem cepilhar, sem tirar as nós. Depois, veja-se aqui, os eixos pesados demais, roda curva que pode não embate soltar os lastros. Depois, vamos andar um pouco. Veja lá o que vou dizer. Não faço desfeita, mas a coisa não se sustenta, balança muito na marcha. O que isso quer dizer? Se puser meia carga, também. Veja que o balancin está pesado demais e atrapalha. Daqui a gente vê aquele lá. Aquele é bem mais mantido. Tem

O homem depois da separação

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O homem depois da separação PMNT Separar sugere a impossibilidade de construir a união. Digo isso porque no que está unido a separação só pode ser realizada através de muito sofrimento de ambas as partes. Não é fácil separar, necessita-se de muitas marteladas para desunir. Se fizermos uma comparação com a carpintaria, vamos ver que a cumeeira de uma casa subsiste às intempéries devido ao conhecimento profundo dos encaixes, segue a isso o tipo de madeira, o formato de cada recorte, as variantes técnicas a serem utilizadas, além disso, a colagem, bitolas, a espessura dos pregos sem contar com o onde e como utilizar. A arte do arquiteto entra nisso como aquele que une e dá a tudo que está preparado o acabamento. Trata-se de um trabalho que dá forma e uma característica. Então uma casa pode desabar se não for bem construída, se não houver nela a união. Assim o casamento, as relações afetivas também passam por um projeto arquitetônico de uma casa. As partes que a formam, as divisõe

A coisa feliz da vida

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A coisa feliz da vida Pedro Moreira Nt Amava meus irmãos, mas o amor deles não ia além do carro novo, a mangueira de água banhada de prata, os pneus rebaixados com frisos importados um a um. O óculos que ganhou de um patrão amistoso que custaria os olhos da cara, eram o abraço vertical da nova camisa de casimira, um caminhar alegre com os sapatos de cromo legítimos, alemães, a afável alegria em dentes mandado clarear na mais famosa clarearia de dentes, sorriso de peixe. O cumprimento com as mãos firmes de um novo relógio e pulseirinhas de ouro com patinhas. Um deles tivera que eu sei, vida feliz numa casa ampla com pinturas renovadas, com pequeno jardim enfeitado onde amavelmente se discutia quanto ganhariam. Os quantos trabalhariam e produziriam para poderem enfim, sentarem-se para assistir o novo modismo da TV de 257". Se não houver trabalho, o sujeito não presta.  Se ficar em casa é vagabundo.  Se abrir um livro é preguiçoso.  Se não tiver dinheiro é um sujeito de

Taquinho do Teco, um verdadeiro amigo

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- Sua Ausência, ele está aí. - O Omisso - Não. - Quem? - O Taquinho do Teco. Ele se tornou vereador quando quis  atirar com um 32 enferrujado num adversário político que o candidato anterior apoiava, aí o teco explodiu acertando um taquinho no condicionado. O apelido pegou. Passado um tempo ele mudou o nome no registro das coisas válidas e se tornou Taquinho do Teco, ganhou a eleição. Vez e outra ele apresenta seus cupinchas, todos com o risinho canino - que os deuses abençam - e mostra, impune o revolvinho quebrado. Daí todo mundo ri, acha graça de tanta estupidez e aprova as leis que beneficiam o seu bolso. O Taquinho do Teco é um dos mais eminentes ausentes da Câmara de Bernardo Ayres um dos caudilhos valorosos que eliminou os pobres a tijolada e mandou queimar as choças dos caboclos. Às vezes é difícil mostrar ao público internacional qual a razão de tanta valoração de salários de tais e quais que se apresentam, não só na magistratura de campo de futebol quan

Leminski projeto

Projeto Leminski  p/ Claudete APRESENTAÇÃO             Paulo.doc é um documento poético do artista Paulo Leminski a partir do olhar de sua existência como pessoa, como homem e cidadão. JUSTIFICATIVA                                    Ocupamos da poesia que mais se dirige à consciência de ser, ao documento que mais o põe em sintonia com a vontade artística. Entrelaçamos este acontecimento fractual de sua existência múltipla com textos que vão de encontro a essa finalidade de construir o homem comum que possui capacidade sintética de expressar criticamente a sua realidade.             O homem Paulo Leminski é defendido como alguém capaz de tantas jornadas poéticas quanto humanas em viver a experiência cotidiana do trabalho, da vida e provimento. O desejo de felicidades que regularizam a sua trajetória enquanto cidadão e artista, uma possuindo a outra. Torna-se o texto Paulo.doc uma reflexão sobre a capacidade otimizada do homem Paulo Leminski em ser o que sempre