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Amor de perdido imposto.

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Amor de perdido imposto Pedro Moreira Nt Antes era melhor. Sempre atrás do que foi está o magnífico. Uns passos de costas e, o abismo das emoções. Eu a olhava com aquele cabelinho crespo e dourados. Um anjo de molas, suave e flexível. Um dia, que já faz tempo, não resisti ao peso comum das mãos e pensei em uma poita de afundar barco leve, uma com pedras enclaustradas no arame forjado ao sol. Vamos pagar impostos juntos? Não sei. Acho que foi falta de poema. A intenção tão clara. A gente pisando na escadaria e descendo dela, assinando no cartório a nossa dívida moral. Quantas pessoas desejaria no escondido de suas luvas, - usaria luvas de pele humana -, e veria escorrer a civilização nas sardinhas enlatadas onde o sufoco salgado no óleo de corpos, de olhos em corpos equilibrista da jardineira. Um novo emprego, filhos, aquela tascada de mão do patrão que diria de maneira envergonhada, de uma delicada maneira sulista de amar: é só para conformar, tava meio caído. A carinha envergo

Gibi de la Cruz

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Gibi de la Cruz Pedro Moreira Nt Na estante um quadro de San Juan de la Cruz poderia dizer Saborear tudo e ter nada em coisa alguma ser tudo ou nada possuir. Olhou nos olhos, mas de viés. - É essa. - Me interessa. - Se levar na merenda ganha um buque de fotos. - Sério. - É. Mas tem que sair sangue desse velório. - Quero ver ele se remexer de dor quando perder tudo. - Ele vai perder? - Deixa comigo, que conheço do negócio. Sei onde a bicha come. - Me deixa louca. - Mais? - É agora, disfarça. - Vamos nessa. Foi chegando no retalho da blusa. Podia dizer o canto: O que não sabe, no gosto que não tem, chegar a tudo como que nada. Feito tudo que nada é. Na estaca dos olhos coisa alguma possui a tudo. Um quase sonho de humana fé. Descarta a falta, eleva o paladar para saborear e aproveitar da coisa o que ela é. E o que não é, em nunca ser, tornar-se ao menos vil. Lançado em todos os cantos se houve o oceano. Ondas de todos o

Descida da serrinha

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Descida da serrinha Pedro Moreira Nt Uma hora depois o guarda apareceu com os documentos. Incrível, está tudo certo, mas vou deter para uma inspeção. Você não tem cara de santo. Um silencio imenso percorreu a via e estacionou no meio da conversa. - Você não, o carro. O guarda ri. - Perdón, yo no lo entiendo. - Não me venha com essa de estrangeiro que a sua identidade diz quem é. - Lo que dice? - Está de brincadeira? - Creo que he habido un engaño. - Ninguém ganhou nada aqui. Se alguém ganha alguma coisa aqui, ainda sou eu. Pode descer. - Señor lo que sucede, por favor? Qué necesitas? - Sai do carro. - Señor, mira, estoy en família. - Acha que sou o quê, seu "hermano"? Aponta a arma. - Me ganas, tenga calma. - Eu ouvi muito bem. Meganha é a tua avó, meu chapa. Desce. - Bien. Conversa com a esposa que está lendo o manual de trânsito. - Amor, tenga la calma. Ela não responde, est

Telefonema

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Telefonema Pedro Moreira Nt Carlos, oi, estou te telefonando porque venderam a rua da minha casa, sim.Isso mesmo! Não sei exatamente quando, acho que ontem, tinha uma placa de negócio fechado, algo assim, e estou em apuros.Eu te explico se tiver paciência, a questão é que não tenho como sair de casa.Devo pagar pedágio, ou sei lá, ou qualquer coisa.Tenho medo que me revistem ou que me ameacem, ou que algo venha a acontecer se pisar em solo privado.Eu sei que era, era, não é mais público é de um sujeito, um baixinho dono de uma lavanderia.Não sei.Lavanderia, eu já lhe disse.E agora? Poderia me ajudar? Talvez eu tenha que pedir à prefeitura o direito de realizar um túnel aqui, o que acha? Não é possível, passa pela lei das demarcações em profundidade, entendo.E se fizer uma ponte? Não? Só se tiver altura além dos carros e caminhões, e ainda teria que pedir uma licença no tráfego a aéreo? Pagar taxas na administração de reserva de mercado para engenheiros formados, sei.Mas

O ato

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O ato Pedro Moreira Nt Entrou em cena com aquelas caricaturas. Se debateu frente ao público em busca de alguma verdade. Na platéia estava toda a animação. O desenho vivia em suas veias. E o público era o reflexo da última propaganda sobre heróis, mas nenhum deles venceu Aquiles até hoje.  Dava certo. Quanto mais superficial, mais era profundo porque a superficialidade acredita que o supérfluo é um presente dos deuses. Então, aplaudiam. E riam também.  Eram sacos de risadas programadas para cada cena, eram aplausos e efeitos especiais desses que anunciam que o alarme do carro está ligado. A verdade. Quantas vezes se mergulhou na impureza em busca da claridade? Quantas vezes saíram dali crentes de que haviam conseguido tocar a raiz das águas.  Mimos, faziam aqueles movimentos de surpresa.  Na saída do espetáculo um dos personagens pagos da direção olhou quase nos olhos de outro personagem e lhe disse: eu-te-amo. A voz saiu afônica porque o equipamento humano ficara muito tempo

Pague e mande

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Pague e mande                              Pedro Moreira Nt Sentada à mesa, olhos pequenos estavam margeados por uma napa pressionada sobre o edredom da pele. Surgia do túnel algumas varas crispadas de cílios onde o espelho refletido mostrava as camadas do sorvete que a qualquer momento seria atacado por bonitas pás carregadeiras de alpaca polida. As sobrancelhas afinadas e quase toda arrebatada por uma mania de se flagelar em quase todas as manhãs de domingo ensolarado, retirá-las à pinça.   O cabelo liso, esfiapado, mantinha forçosas e trágicas   ondulações que lhe traria, pensava, alguma dignidade. A boca foi toda debruada com a entrada de uma espécie estranha de gordura química que inchava ferozmente os lábios,   a fim de enaltece-lo, e a mostrar que ao pronunciar qualquer palavra sacudiria, em um quase vibrato, as intenções mais baixas que qualquer um em sua banca de convidados imaginaria  adormecidas.  - E, mais. Mais muito mais, minha cara.  A orelha escondida po