O vestido do salto alto
O vestido do salto alto Pedro Moreira Nt Havia se desfeito de um amor. Antes passara mais que cinco minutos frente à vitrina. Ela deixara filhos, amigos, desejos conturbados apenas por um vestido rosa e salpicado de miúdas flores de campo entrelaçadas, vivamente decoradas no ponto de um antigo e raro bordado. Não era todo assim. Apenas uma parte dele era fincado de detalhes quase imperceptíveis no meio à estampa. O vestido a seduzira. Todo um momento depois. Passou ligeira à loja de sapatos. Amava a sua coleção impossível. Não podia o vestido, nem ele caberia ao lugar, à cultura da tradição de suas amigas. A marca era tudo. O vestido não era de marca. Elas eram marcadas desde a etiqueta. Os sonhos eram conjugados em um condomínio interno. Esperava-se o porteiro abrir, esperava-se o cumprimento longo e chato, a notícia de algo chato e entrava-se no vestíbulo do pensamento, naquele lugar que as horas dançam e são pegas repentinamente no interesse, na coisa,